A crise dos opioides nos Estados Unidos, que resultou na morte de centenas de milhares de pessoas, é um exemplo devastador das consequências do uso indevido e desvirtuado de medicamentos potentes para o alívio da dor. Empresas farmacêuticas, como a Purdue Pharma, foram acusadas de estratégias agressivas de marketing que minimizaram os riscos de dependência desses medicamentos, levando ao uso generalizado e abusivo. Esse comportamento irresponsável da indústria farmacêutica, com o foco no lucro, desencadeou uma das piores crises de saúde pública da história americana (QUINONES, 2015).
Infelizmente, há evidências de que estratégias semelhantes estão sendo replicadas no Brasil. De acordo com reportagem do Metrópoles, a tática de promover opioides como medicamentos seguros para diferentes tipos de dores, mesmo quando não há justificativa clínica, representa um grave risco à saúde pública (METRÓPOLES, 2023). A falta de uma regulação rigorosa, associada à falta de informação sobre os perigos dos opioides, pode levar a um aumento alarmante de dependência e mortes por overdose no país.
Estratégia de Expansão no Brasil
Relatórios investigativos revelam que empresas farmacêuticas estão utilizando no Brasil táticas similares às empregadas nos EUA. Isso inclui:
- Marketing Agressivo: As farmacêuticas promovem opioides de maneira irresponsável, enfatizando seus benefícios no controle da dor, mas omitindo os riscos de dependência e os efeitos colaterais graves (VOLKOW; McLELLAN, 2016).
- Manipulação de Profissionais da Saúde: Como ocorreu nos EUA, empresas farmacêuticas estão focando em médicos e outros profissionais de saúde para incentivar prescrições em situações em que o uso de opioides não seria indicado, utilizando para isso incentivos financeiros ou “educacionais” (METRÓPOLES, 2023).
- Subestimação dos Riscos: A mesma narrativa perigosa de que opioides são seguros se usados de maneira correta está sendo divulgada, ignorando o fato de que, mesmo sob prescrição médica, esses medicamentos podem causar dependência (CDC, 2019).
Os Perigos dos Opioides
Os opioides são potentes analgésicos, usados principalmente para o controle de dores intensas, como as causadas por câncer ou após cirurgias graves. No entanto, o uso prolongado ou inadequado pode levar rapidamente à dependência, seguida de tolerância (a necessidade de doses maiores para o mesmo efeito) e, em muitos casos, à overdose, que pode ser fatal (THE GUARDIAN, 2023).
Os principais riscos incluem:
- Dependência Química: Mesmo quando usados conforme a prescrição, os opioides podem induzir dependência, levando os pacientes a abusarem da medicação para obter alívio contínuo (VOLKOW; McLELLAN, 2016).
- Sobredosagem e Morte: O uso abusivo de opioides frequentemente resulta em overdose, onde o sistema respiratório falha devido ao efeito depressor do medicamento. Nos EUA, dezenas de milhares de mortes são registradas anualmente por esse motivo (CDC, 2019).
- Impactos Sociais: A crise dos opioides afeta não apenas os pacientes, mas também suas famílias e comunidades, gerando um impacto econômico e social devastador (QUINONES, 2015).
Um Alerta para o Brasil
A experiência americana serve como um alerta claro para o Brasil. As autoridades de saúde, médicos e o público em geral devem estar cientes das táticas utilizadas pela indústria farmacêutica para promover o uso de opioides. Conforme relatado no Metrópoles, empresas estão utilizando estratégias de marketing agressivas para vender opioides no Brasil, tal como fizeram nos EUA, o que pode levar a um aumento de dependência e overdose (METRÓPOLES, 2023).
É essencial que haja uma regulação mais rigorosa, um controle sobre a prescrição desses medicamentos e campanhas de conscientização sobre os riscos envolvidos. A prevenção é a melhor estratégia para evitar que uma crise similar aconteça no Brasil.
A disseminação de informações científicas e o reforço de políticas públicas voltadas para o uso consciente e controlado dos opioides são passos cruciais para garantir a segurança da população e evitar que o país enfrente as mesmas tragédias observadas nos EUA (THE GUARDIAN, 2023).
Conclusão
Os opioides podem ser úteis no tratamento de dores graves, mas seu uso precisa ser restrito e supervisionado de maneira rigorosa. Não podemos permitir que as táticas enganosas da indústria farmacêutica, que já custaram tantas vidas nos Estados Unidos, sejam replicadas no Brasil. A vigilância, educação e regulamentação são ferramentas essenciais na luta contra a epidemia de opioides que ameaça nosso país.
Referências
- CDC (Centers for Disease Control and Prevention). Annual surveillance report of drug-related risks and outcomes — United States. 2019. Disponível em: https://www.cdc.gov. Acesso em: 17 set. 2024.
- METRÓPOLES. Farmacêutica de opioides repete no Brasil tática que matou milhares nos EUA. 2023. Disponível em: https://www.metropoles.com/farmaceutica-de-opioides-repete-no-brasil-tatica-que-matou-milhares-nos-eua. Acesso em: 17 set. 2024.
- QUINONES, Sam. Dreamland: The True Tale of America’s Opiate Epidemic. New York: Bloomsbury Press, 2015.
- THE GUARDIAN. New strategy urgently needed to tackle devastating opioids crisis, US told. 2023. Disponível em: https://www.theguardian.com/opioids-crisis. Acesso em: 17 set. 2024.
- VOLKOW, Nora D.; McLELLAN, A. Thomas. Opioid abuse in chronic pain: misconceptions and mitigation strategies. New England Journal of Medicine, v. 374, n. 13, p. 1253-1263, 2016. DOI: 10.1056/NEJMra1507771.
Rolf Hartmann
Presidente da Cruz Azul no Brasil